Vizinhos

Está velho e abandonado o casarão.

Assistiu a corridas de crianças, ouviu as suas gargalhadas e as recomendações dos adultos.

Não corram! Saiam do sol! Venham para dentro!

Hoje os habitantes são outros: uma cabra e seis filhotes. Fazem do que foi um jardim o seu refeitório privado. De vez em quando entram na casa , sobem ao primeiro andar e passeiam pela varanda (foi aí que os apanhei).

Logo abaixo, outro jardim: o meu. O amarelo e o rosa das flores e o verde das plantas e dos arbustos devem ser uma tentação. Aproximam-se do muro , mas não se atrevem a saltar (percebem que o pulo é grande demais para as suas curtas pernas). Ficam a olhar.

Ficavam... descobriram um acesso menos perigoso e agora é vê-los a banquetear-se no que deve ser um restaurante com ementa variada.

Quando conseguimos encontrar o dono, ele chama-os à razão:

- Então, meninos, não têm aqui em cima ervinha verde? É preciso ir aí para baixo? Ai, ai, ai ...

Ouvem atentamente o sermão. Deve entrar-lhes por um ouvido e sair pelo outro. Dias depois estão lá outra vez.